segunda-feira, 4 de junho de 2012

2º Episódio - Sobe, sobe, feijão sobe...


O meu vizinho do lado que é de Matosinhos e comprou a casa na mesma altura que eu e percebe tanto de agricultura como eu de lagares de azeite, lembrou-se, há tempos, de semear feijões, tendo colocado várias estacas que suportavam uma rede por onde os feijões, na sua ânsia de subir na vida, começaram a trepar de forma bem acelerada.
Dava gosto vê-los crescer e não tardou muito para que o vizinho passasse a colher, diariamente,  uns bons punhados de vagens para o seu repasto, Chegou mesmo a oferecer-me umas quantas que viriam a complementar uma bela posta de pescada, batatas e cenoura cozidas - "bai lá bai, até o Barack Obama!".
Aquilo pareceu-me uma tarefa perfeitamente adequada à minha formação hortícola  - semear, regar e colher.
Já fervilhavam na minha mente ideias sobre as mil e uma maneiras de cozinhar feijão verde, quando uma rajada de vento atirou por terra a rede, estacas e feijões.
Na ausência do vizinho, envidei alguns esforços no sentido de levantar as estacas, os quais se tornaram infrutíferos, quer pelo peso de toda a estrutura, quer pelo vento que soprava com alguma intensidade, quer ainda, porque muitas das raízes tinham sido arrancadas da terra.
Este acontecimento que, compreensivelmente, provocou a desolação no vizinho, deu-me, a mim, ainda maior alento para me abalançar na produção massiva de "feijoada", com a sobranceria a vir ao de cima: "espera aí que já vais ver como se fazem umas estacas, à maneira, para feijões!".
Estudei o local apropriado, fiz várias medições, elaborei uma lista dos materiais necessários e fui às compras.
Numa serração aqui perto, encomendei as estacas com as medidas que resultaram dos meus apurados cálculos. Na drogaria, comprei arame plastificado, parafusos de aço e pregos. No horto, as sementes e o adubo.
Senti-me um guerreiro que efectuava os últimos preparativos para a batalha, com a convicção que dela sairia vencedor e a ansiedade apoderou-se de mim, e -  "guys, here I come!"
O projecto era completamente inovador! As estacas seriam enterradas na vertical, paralelas ao muro, do qual distariam uns 50 cm e, através da inserção perpendicular de suportes de design arrojado, far-se-ia uma acoplação enérgica à superfície superior mural de modo a proporcionar uma estabilidade horizontal que suportasse as investidas de quaisquer ventos alísios.
Dito de outra maneira: - "As gajas iam ficar amarradas ao muro e dali não sairiam, nem que chovessem picaretas!"
À martelada enterrei bem as estacas. Com o berbequim fiz furos no muro e coloquei buchas às quais aparafusei pedaços de ripas que também aparafusei às estacas. Ligando as estacas e fazendo uma espécie de entrelaçado, estendi arame plastificado prendendo-o àquelas com parafusos de aço.
Ao fim de várias marteladelas nos dedos, alguns arranhões nos braços e meia dúzia de palavrões, a obra estava terminada! Não houve derrapagens, não houve derrapagens, não houve derrapagens!
Contemplando a obra, confesso que senti uma pontinha de orgulho. Com efeito, aquela estrutura, além de estéticamente ter roçado a perfeição, em termos de robustez, estabilidade e segurança, nada ficava a dever às pirâmides do Egipto!
Foi construída há cerca de 4 anos e ainda ali está de pedra e cal!
Estava tudo a correr como o previsto e era, então, chegada a hora da "semeadura".
Abrem-se buracos na terra, enfiam-se os feijões, tapa-se, deita-se um pouco de adubo, rega-se e a natureza trata do resto.
Passados 3 ou 4 dias começam a espreitar os primeiros rebentos. Com os feijões é tudo muito rápido!
Mas, mas, mas .... os meus tardavam a trepar aquela  bela estrutura tão denodadamente executada para os acolher no seu seio.
Os dias iam-se passando e o raio dos feijões teimavam em manter-se meninos parecendo tudo fazer para evitar uma estrutura que estava desejosa de os guiar para voos mas altos.
Lamentando-me constantemente da minha triste sina, a Maria João lembrou-se, então, de lançar um olhar atento sobre a embalagem dos feijões e, com o sorrisinho que devem imaginar,  profere a seguinte frase:
- "OLHA LÁ, MAS ESTES SÃO FEIJÕES RASTEIROS!"
....
....
Olhando para ela e vendo aquele sorrisinho de gozo, fiquei com a nítida sensação que, mentalmente, trauteava a canção: - "sobe, sobe, feijão sobe..."
 

6 comentários:

  1. Olá Abílio! Um blogue cheio de boas dicas e muito humor! Parabéns!

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  2. Uma boa lição, há que semear sempre rasteiro poupa o trabalho das estacas, e há espécies que dão muito feijão várias camadas.

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  3. ADUBO Sr Abílio? deixe-se disso... não sabe que essa m--- faz mal à saúde? esperava melhor de si... Quando é que se inicia na nobre arte de produzir estrume/composto de elevadíssima qualidade? já pensou quão melhores e saborosos vão ficar os seus legumes? força nisso!

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    1. Coração Hortelão:
      Essa do estrume/composto fica para a próxima época, pois tenho de contactar os Serviços da A.R. para saber da sua disponibiladade de fornecimento de algumas toneladas.

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